domingo, 25 de dezembro de 2011

A Privataria Tucana, uma análise.

         Aproveitei o feriado de final de ano para ler o mais recente lançamento editorial, solenemente ignorado pela imprensa nacional, e que tem, segundo comentários de alguns blogs, deixado os tucanos de penas eriçadas em virtude das revelações constrangedoras sobre a doação de empresas nacionais a particulares no governo FHC, episódio conhecido como privataria, cujo episodio envolveu lavagem de dinheiro, arapongas e trambiqueiros que atuavam “no limite da irresponsabilidade”, todos citados no livro.
O livro Privataria Tucana esclarece a forma como se processou a entrega do patrimônio nacional e quem foram os beneficiados, através de negociatas e conchavos, que lucraram bilhões, remetidos a paraísos fiscais.
O autor centralizou sua investigação na família Serra, cujo representante mais ilustre é o ex e talvez futuro candidato à presidência da república, José Serra e citou, de leve, alguns outros pássaros de alta plumagem, como Tasso Jereissati.
Foram poupados os tucanos-mor, Fernando Henrique Cardoso e o provável candidato à presidência em 2014, Aécio Neves.
Através da leitura, pode-se observar que a “roubalheira” dos recursos nacionais vem de longa data, alterando-se apenas os personagens. Primeiro, veio o, à época, “mauricinho” Fernando Collor de Mello e sua eminência parda, Paulo César Farias, posteriormente o pseudo-socialista neoliberal Fernando Henrique Cardoso e seus assessores Sérgio Mota, Ricardo Sergio e Daniel Dantas, e, mais recentemente, Lula e seus companheiros, José Dirceu, Delúbio Soares e Marcos Valério. De um governo para outros alterou-se apenas o “modus operandi”, mas com a corrupção presente em todos eles.
Vale a pena a leitura, pois o livro apresenta farta documentação confirmando os argumentos do autor e mostrando que a praga de desonestos que milita na vida pública nacional está longe de ser exterminada.
Hoje em dia, as “viúvas” de FHC argumentam que se não houvesse a privatização do sistema Telebrás, a população não teria acesso à telefonia, tão disseminada em todas as camadas sociais. Agora, a que custo isso aconteceu? O autor demonstra que empresas foram entregues à iniciativa privada por uma “merreca”, e foram pagas através de moedas podres e com financiamento do BNDES, ou seja o País pagou para transferir os bens para os grupos privados. Em relação às telefônicas, atualmente, paga-se uma das tarifas mais caras do mundo e com serviço da pior qualidade, haja vista tais empresas serem campeãs de reclamações no PROCON e nos juizados.
E se os tucanos não fossem barrados no seu festival de entregas, a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica também estariam em mãos alienígenas.
Recentemente, na crise mundial, que ainda persiste, os grupos financeiros privados fecharam as portas aos empresários nacionais, especialmente, os micro e pequenos. E quem os socorreu, garantindo recursos para seus negócios? Os bancos oficiais, a mando da Presidência da República. Se dependesse da praga tucana, o Brasil teria passado por um maremoto econômico, com uma quebradeira geral, já que as instituições oficiais estariam anexadas aos bradescos da vida, que representam, tão somente, o capitalismo selvagem.
Vale à pena deixar uma frase citada no livro, de autoria de Luiz Carlos Bresser Pereira, por incrível que pareça um tucano fundador do PSDB: “Só um bobo dá a estrangeiros serviços públicos como as telefonias fixa e móvel”. Um bobo ou um “esperto”, complementa o autor.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Desmembrando os dezembro

 Aos leitores do Blog, deixo a seguinte mensagem
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          Estamos entrando em dezembro, o mês da contemplação. Neste tempo, parecemos ser convidados a retrospectos e a novos sonhos. Olhamos para trás e para frente ao mesmo tempo. Ao olhar para os novembros, setembros, agostos, julhos e junhos, percebemos, sem lamento, lágrimas e também alegrias, dores e prazeres, fracassos e sucessos alcançados. 
         Ao olhar para frente, para o novo janeiro, elaboramos metas, premeditamos passos, traçamos rotas, fazemos planos. Dezembro é assim, um catapultar para trás e um olhar futuro ao mesmo tempo, é uma aterrissagem cujo piloto foi obrigado a reverter para decolar de novo, é adeus misturado a bemvindo, fim mesclado a começo. Dezembro é paradoxal como a vida. Frágil pela sua rápida passagem, forte pela sua eterna presença em nossas vidas.
          Dezembro me lembra de que o relógio do tempo não pára, alerta-me para o fato de que os minutos e segundos não se sentam para descansar, que os ponteiros ou números digitais de marcação de horas não tiram férias jamais, que o sol mantém-se resoluto no seu trajeto. Dezembro me faz ver as barbas mais brancas em realce nos espelhos também mais velhos, juntamente com as rugas menos discretas em negrito, os filhos estão mais velhos. Dezembro me persuade que não posso olvidar que juntamente com o tempo também passarei numa dessas passagens. Dezembro me incentiva a pedir sabedoria a Deus para contar os meus dias. Dezembro me dá forças para continuar apertando com força as mãos d'Aquele que me prometeu a eternidade, relativizadora maior das horas, libertadora infalível dos meses que secam a vida.
        Nesta vida de amargos e doces, de retas e curva, de montanhas e vales, sol e chuva, somente é possível viver bem se a vida estiver eternamente garantida por meio de Jesus, crendo de fato. Ora, o que é a fé, senão a fiel confiança nas palavras de Deus. A Fé é a simples ação de não considerar Deus um mentiroso. Para tesouros passageiros não vale a pena comprar passagem, mas para obtermos um eterno é de graça, basta apenas crer de verdade, confiando em Jesus. Gostaria que todos aceitassem o convite para a Festa, bodas da eternidade, recheada com bolas, bolos e velas. Com as bolas brincamos, do bolo comemos, e com as velas queimamos todos os restos de dezembros.

Por Luis Tarquínio, pastor. Fonte: http://tarquinioblog.blogspot.com/

sábado, 26 de novembro de 2011

Fim de papo para o Leão baiano





Como já era esperado, favas contadas, o rubro-negro baiano, Esporte Clube Vitória carimbou sua permanência na série B.


O que pode ficar como ensinamento dessa sofrível participação no brasileirão 2011, onde nadou, nadou e morreu na praia?


 Destacam-se algumas lições, abaixo elencadas:


a) Jogador de "nome" não é garantia de sucesso em campo;
b) Equipe comandada por treinador medroso e retranqueiro está fadada ao insucesso;
c) Ter um caminhão de jogadores, especialmente de meio de campo, não significa peças de reposição de qualidade;
d) A base deve ser valorizada, afinal Duílio, Esdras, Mineiro e Arthur Maia apresentam futebol igual ou melhor dos que muitos que atuaram nesse campeonato.
e) Como já foi dito, planejamento de curto, médio e longo prazos é fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento;
f) O histórico do time desde meados de 2010 vem descendo a ladeira e, caso não haja reação imediata, correrá o risco de igualar-se ao seu arquirrival, o Bahia de Salvador, que se encontra há 12 anos sem títulos, com participação sofrível no campeonato nacional e apegado tão somente a um passado distante, com as decantadas e enferrujadas estrelas.


Algumas sugestões de um associado ouro para 2012:


Devem permanecer:
- Douglas (excelente surpresa);
- Alisson: experiência que pode ajudar;
- Gabriel, Reniê,Uelinton, Felipe e Neto Coruja: boas surpresas da base que devem ser mantidas;
- Rildo (o Apodi do ataque): às vezes é "porra louca", mas pode decidir uma partida;
- Neto Baiano: garra e doação no jogo, merece ficar;
- Arthur Maia: Tá na hora de deixar de ser uma eterna promessa;
- Marquinhos: É craque, porém deve ser avaliada sua condição física, pois perde ritmo de jogo e prejudica a equipe com sua ausência;
- Renan Silva: jogou apenas uma partida, mas mostrou qualidades;
- Preto: bom jogador, mesmo nível de Mineiro;


Podem sair que não farão falta:
- Vagner Benazzi (e que nunca mais volte): medroso e retranqueiro. É treinador de time pequeno;
- Fernando: decepcionou;
- Nino: desgastado, sofrível nos cruzamentos e sem inteligência quando chega ao ataque;
- Jean, Mauricio, Fernandinho,Charles Wagner, Leo Fortunato, Xuxa e Rodrigo Mancha: não justificaram suas contratações. Foi dinheiro jogado fora;
- Os três "G", Gilberto, Geraldo, Geovani e Lucio Flávio: jogaram com o nome e nada mais;
- Rychely,  Edson e Marcelo: Como diz meu prof. de direito do trabalho: Valeu, foi bom, mas ADEUS, não precisam vir na segunda-feira.
- Fábio Santos: Depois de um bom inicio, não mais mostrou serviço.


Expectativas quanto à direção:


Alexi Portela: tem crédito. Precisa ser melhor no planejamento, deixar a administração do futebol para quem entende, valorizar o patrimônio e blindar o ambiente do clube visando evitar ingerências políticas;
Newton Drumond: deve ser alçado de figura decorativa a verdadeiro gestor;
Ricardo Silva: também tem crédito, vai ajudar;
Beto Silveira, diretor de futebol, sem comentários. Como diz o ditado popular, "nem fede, nem cheira";
Marketing: apagado que nem o próprio time.


E chega de Vadões, Benazzis, Mancinis, Geninhos e outros do mesmo naipe. O Leão precisa de treinador destemido, que faça o Barradão retornar aos tempos de glória. É inadmissível, jogar retrancado em casa, valendo-se de contra-ataques. As demais equipes devem tremer quando pisar no santuário rubro-negro. 


Que se faça um planejamento firme, espelhando-se em Coritiba, que sem "estrelas", do técnico ao ponta esquerda, destacou-se na série A e na Portuguesa, campeã da série B, onde brilhou de forma incandescente.


Bem, essa foi uma simples análise sobre o clube e que ele honre seu nome e tradição em 2012.





segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Aprecio os artigos do Desembargador Rizzato Nunes, professor e autor de livros de Direito do Consumidor. Segue um texto bastante interessante sobre o nosso dia a dia. E você, faz parte da sociedade de colecionadores? Vale uma reflexão.


Silmário Sousa




A sociedade de consumo: uma sociedade de colecionadores?
Meu amigo Walter Ego conta que certa vez foi convidado para ir com outro amigo dele a um jantar na casa de um empresário. "Modo de dizer", disse ele. "É que o empresário era investidor de empresas falidas... Sei lá. Mas tinha muito dinheiro, pelo menos pelo que pude ver de sua casa e demais coisas e também do que ele falava".
Pois bem. Conta meu amigo que lá chegando, foram convidados para irem ao andar debaixo, numa espécie de subsolo, para conhecer a adega de vinhos. Suntuosa, muito bem equipada e com um estoque de centenas de garrafas, muitas delas raras adquiridas em leilões internacionais e, claro, caríssimas. Todas devidamente catalogadas pelo próprio proprietário que, com muito orgulho, as mostrou dando ênfase em vários rótulos.
W. Ego se animou. Pensou: "Me dei bem. Hoje tomarei um vinho que jamais poderia tomar". Mas, que nada. Feita a visita à adega, o anfitrião os levou para o andar térreo até outras três adegas dessas compradas em lojas de eletrodomésticos (embora das maiores e mais sofisticadas) e, abrindo uma das portas, escolheu duas garrafas de vinho e dali dirigiram-se à mesa para o jantar. Eram bons vinhos, mas nada que pudesse fazer frente aos raros e espetaculares da adega e que chegaram a passear nos sonhos de meu amigo.
Depois, quando deu, W. Ego perguntou ao outro amigo: "Ele não bebe os vinhos lá debaixo?". "Não", respondeu o amigo, "é só para ver. Não para beber". Walter Ego retrucou: "Ele nunca beberá? Nem em ocasiões especiais? Ou com pessoas especiais?". "Acho que não. Até porque, pela idade dele e com tantas garrafas armazenadas, para toma-las todas ele já deveria ter começado a fazê-lo há muito tempo. E essas que ele bebe, ele compra a toda hora".
Quando W. Ego me contou essa história, disse: "O sujeito compra um monte de vinhos só para olhar para os rótulos e garrafas? Ele as admira como se fossem troféus! Se ainda guardasse como investimento, se deixasse os vinhos envelhecerem e depois os vendesse... Ou, então, podia guardar as garrafas vazias junto das avaliações feitas após ter bebido o conteúdo!".
Essa história de meu amigo fez-me lembrar de um artigo que eu li há muitos anos numa revista de avião e que teve forte impacto em mim. Era um pequeno texto desses que pedem que nós reflitamos sobre algo em nossas vidas e que, talvez, por falta de tempo nós acabamos não dando tanta importância ou mesmo porque aceitamos sem querer as coisas como elas são, como elas se apresentam ou como são impostas, determinadas pelas circunstâncias sociais, etc. O texto dizia mais ou menos o seguinte.
O escritor contava a estória de um homem, casado, que entrara no quarto do casal e abrira a gaveta da cômoda onde sua mulher guardava a lingerie. Ele remexeu nas peças, olhou no meio e por baixo e acabou encontrando uma caixinha, que estava embrulhada com papel de presente. Intrigado, a examinou franziu a testa, forçou os olhos, pensou e após lembrar de algo disse para si mesmo: "Ah! É aquele bracelete de ouro que eu dei para ela há três anos. Ela gostou tanto que guardou dentro da caixinha, embrulhada com o mesmo papel que a moça da joalheria usou. Ela gostou tanto e com tanto cuidando que nunca usou". Depois, desembrulhou o presente, abriu a caixa, pegou o bracelete e disse: "Hoje ela irá usar!". Daí, dirigiu-se à sala onde estavam outras pessoas, foi até o caixão onde jazia o corpo de sua mulher morta e colocou o bracelete em seu pulso.
Depois disso, o autor do artigo perguntava ao leitor se ele tinha em casa alguma coisa comprada e nunca usada. Ele dizia que as coisas que nós possuímos, independentemente de preço ou valor, só faziam algum sentido se nós as usássemos, se déssemos a ela uma finalidade, uma utilidade. Ele perguntava se o leitor tinha em casa um faqueiro nunca usado, guardado dentro da própria caixa feita pelo fabricante, se tinha peças de porcelana mantidas num armário para um dia serem usadas num jantar nunca oferecido, se tinha roupas dentro do armário que não mais usava nem iria usar ou que nunca usara, etc.
Lembro-me bem da sensação que tive ao ler o artigo. Caiu-me uma ficha e eu lembrei que havia adquirido um faqueiro há muito tempo e que ele estava guardado dentro da caixa. Tomei a decisão na mesma hora. Assim que cheguei em casa, separei todos os talheres que eu tinha em uso, mas que já eram antigos (foi por isso que eu comprara o faqueiro). Dei de presente a quem precisava e coloquei em uso o faqueiro novinho, retirado de dentro da caixa.
Esse artigo me tocou e eu depois fui, criticamente, me vigiando para deixar de ter em casa produtos nunca usados, o que eu faço até hoje, mas que, claro, não interessa referir. O que eu pretendo contando essas histórias é colocar a questão como reflexão nesta nossa sociedade capitalista, na qual muitos nada tem e também muitos esbanjam sobras ou colecionam objetos que não serão utilizados. Já houve quem chamasse a nossa sociedade de sociedade de colecionadores.
Há, é verdade uma tradição na coleção de objetos. Coleciona-se selos, moedas, joias, etc. e que remontam a tempos antigos, como comprovam as exposições de museus. Mas, com o avanço da produção e reprodução cada vez mais precisa e mais barata, os modos de colecionar acabaram crescendo. Naturalmente, coleciona-se figurinhas até hoje, mas até isso é diferente de nosso romântico tempo de criança. Com a facilidade das compras e quantidade de ofertas, muitas pessoas passaram a colecionar uma série de objetos. Coleciona-se canetas, bolsas, sapatos, gravatas, ternos, vestidos, automóveis (!), etc.
Claro que isso é problema de cada um. Quem pode acaba fazendo se lhe aprouver, mas que é estranho manter certas coleções é. Quero dizer, se for mesmo para estabelecer uma coleção autêntica, com catálogo e demonstração como num museu (não importando nem local nem tamanho) talvez se justifique. O problema, ao que parece, está mais relacionado ao que o autor disse no artigo. Muitas vezes, a pessoa guarda coisas, repetidas ou não, para nunca usar e daí ela perde a finalidade.
Já se disse que a sociedade capitalista é da abundância, mas, claro, isso não corresponde à realidade. Abundam produtos e serviços, mas faltam condições básicas de sobrevivência para milhões de pessoas. Aliás, toda vez que uma empresa coloca no mercado algo novo, não é a abundância sua característica, mas sua falta para a maior parte dos que não podem comprar. Então, nessa terra de escassez, manter produtos guardados sem finalidade pode ficar sem sentido.
Evidentemente que há muitas coisas que se pode ter em casa para um dia usar de verdade. Se a pessoa mantém guardados livros, dvds, cds ela certamente poderá utilizá-los. Aliás, esse é o exemplo típico de coleção que vale a pena ter. Livros, filmes, músicas. Mesmo que nós compremos um livro para apenas um dia no futuro lê-lo. Quem sabe, num dia de chuva (como este em que eu escrevo este artigo) a pessoa olhe para o livro na estante e, finalmente, resolva lê-lo. Vale mesmo a pena tê-lo ali por perto. Lembro-me de uma entrevista que li com Umberto Eco. Não sei exatamente os números que o entrevistador usou. Mas, ele dizia que uma pesquisa apontava que milhões de leitores do famoso escritor italiano haviam comprado o último livro que ele publicara, mas que apenas metade (não sei o percentual exato, repito) o havia lido e perguntava o que ele achava disso. Sua resposta foi a de que tudo indicava que as pessoas queriam ler o livro, mas estavam esperando a oportunidade para fazê-lo. Tê-lo comprado era algo importante porque quando surgisse a oportunidade, elas iriam lê-lo.
Penso que, realmente, vale a pena comprar livros e guardá-los ainda que a leitura somente ocorra no futuro; o mesmo com filmes, com música e coisas semelhantes. Mas, valerá guardar gravatas? Um homem precisa mesmo ter em seu armário vinte ou trinta gravatas (Ou mais)? Uma mulher trinta bolsas ou trinta sapatos (ou mais) ? Aliás, como o design desses produtos varia com o tempo (quero dizer, com a moda imposta ao comportamento social, que muda com o passar do tempo), muitos deles ficarão sem utilidade e muitos sequer serão usados.
É isso. Apenas uma apresentação de uma questão que talvez permita uma reflexão sobre os nossos modos de consumo.

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* Rizzatto Nunes Desembargador do TJ/SP, escritor e professor de Direito do Consumidor.

Fonte: Migalhas

domingo, 20 de novembro de 2011

O Leão envergonhado

          



           Diz a expressão popular que o raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. Será verdade? Claro que o raio cai duas vezes no mesmo lugar, pelo menos metaforicamente e no futebol.
Foi o que aconteceu com o Esporte Clube Vitória, quando dois raios atingiram o seu estádio, Barradão. O primeiro fato aconteceu na decisão do campeonato baiano deste ano, mais precisamente no dia 15 de maio, quando o rubro-negro precisava apenas de um empate para sagrar-se pentacampeão estadual, título inédito em sua história. Naquele jogo, chegou a estar vencendo pó 1 X 0, o que lhe ampliava a vantagem, porém não honrou o grande público presente e terminou sendo derrotado por 2 X 1 pelo Bahia de Feira de Santana.
           O segundo raio caiu no mesmo local no dia 19 de novembro último, quando a equipe baiana, após estar vencendo até os 39 min do segundo tempo, sofreu dois gols em menos de 5 minutos, que praticamente lhe tiraram a chance de retornar à primeira divisão do futebol brasileiro, o que seria, segundo alguns, a concretização do sonho rubro-negro.
Porém, cabe uma reflexão: se não se conseguiu montar uma equipe competitiva e confiável para a disputa da série B, o que se poderia esperar caso o time conseguisse o acesso à série A? A última derrota pode ter livrado os baianos de um pesadelo.
A diretoria atual pecou pela falta de planejamento e pelas contratações sem critério e, portanto, pagou o preço.
Resta, agora, juntar os cacos espalhados no chão, ou melhor, pelo gramado do Barradão e esquecer, apagar da historia do clube o ano de 2011 e, desta vez, fazer o serviço correto, com planejamento de curto, médio e longo prazos, valorizando a base e contratando com base em critérios técnicos, esquecendo-se que só o nome não ganha jogo.
E podemos plagiar o ex-governador da Bahia, Otávio Mangabeira: “pense num absurdo, no Vitória tem precedente”.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O mundo teme o tempo...


O fotógrafo Nicholas Nixon é responsável por uma compilação de fotos bastante curiosa.
Desde 1975, ele é responsável por fotografar quatro irmãs. A intenção é mostrar como o tempo age sobre nosso corpo.
As imagens, em preto e branco, iniciaram mostrando as irmãs que tinham de 15 a 25 anos. A mais velha delas, Baby, é esposa do fotógrafo.

                                                                                 1975
 1976
 1977
 1978
 1979
 1980
 1981
 1982
 1983
 1984
 1985
 1986
 1987
 1988
 1989
 1990
 1991
 1992
 1993
 1994
 1995
 1996
 1997
 1998
 1999
 2000
 2001
 2002
 2003
 2004
 2005
 2006
 2007
 2008

2010


'A vida é curta
quebre regras
perdoe rapidamente
beije demoradamente, ame verdadeiramente
ria incontrolavelmente
e nunca deixe de sorrir
por mais estranho que seja o motivo.
A vida não pode ser a festa que esperávamos
mas enquanto estamos aqui, devemos dançar....' 
Tempo tempo tempo tempo...

domingo, 23 de outubro de 2011

A "banalização" do amor.

Interessante como as pessoas se preocupam com a suposta banalização da frase “te amo”, mas ninguém se manifesta com expressões do tipo “odeio tal banda...” “odeio pessoas assim”, que permeiam as redes sociais.

O amor não se deve expressar, senão fica banal, mas disseminar o ódio está permitido. As mesmas pessoas que criticam a expressão sobre o amor, nada dizem em relação ao outro sentimento.

Penso que as pessoas associam o amor tão somente ao romantismo ou ao sexo, mas o sentimento é muito mais que isso. Jesus, que alguns consideram como o maior psicólogo que já existiu já tinha dito: “amai-vos uns aos outros...”, ou ainda “amai ao próximo como a si mesmo”. Tais expressões podem ser traduzidas como um querer bem, um sentimento de que a pessoa seja feliz, uma demonstração de afeto e amizade e não, apenas, com conotação de romantismo e sexualidade.

Relativamente à psicologia, alguns pesquisadores ocidentais separaram dois componentes principais, o altruísta e o narcisista. Esta visão é representada nos trabalhos de Peck Scott, autor do livro “O Mito do Amor”, cujos trabalhos no campo de psicologia aplicada exploraram as definições do amor e do ódio. Peck defende que o amor é uma combinação do interesse pelo crescimento espiritual do outro e também narcisismo. Nesta combinação, o amor é uma ação, não um simples sentimento.

Um questionamento pode ser feito: porque limitar e, imediatamente, associar o amor ao romantismo ou ao sexo? Ele é muito mais que isso.

Não é incomum a situação de se ter um amigo do sexo oposto, onde existe um vinculo de amizade, e aparece alguém que não compreende e, automaticamente, infere existir algo mais entre vocês.  E mesmo você explicando que se trata apenas de amizade pela pessoa, ela ainda fica com malicias sobre vocês dois.

Os escritores, poetas, compositores, em diversas oportunidades, já colocaram que a amizade e o amor são sementes que costumam nascer juntamente, e nascem de uma iniciativa com o próximo por quem você se identificou, a partir das suas impressões. É simplesmente um sentimento apoiado no afeto e na solidariedade.

O importante é saber distinguir quando o amor é romântico ou de amizade. Deve-se ter ciência de que esses sentimentos coexistem em nossos corações, nos relacionamentos com os outros e interiormente, tendo a sensatez de distingui-los corretamente.

É imperativo que um sentimento tão nobre com o amor, não seja reduzido a aspectos de romantismo e sexualidade. 

Uma coisa é certa: pode dizer ao seu amigo ou à sua amiga que (o)a ama, pois nada tem de errado nisto. O resto é pequenez de pensamentos e sentimentos.


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Greve dos bancários, sem os sub-bancários...

Excelente texto que analisa a situação das greves no sistema financeiro atual, além de fazer referências à nobre ministra Eliana Calmon. Leiam com atenção, pois traz informações interessantes:

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Inteligência dos bancos e a greve dos que sobraram

A grande alteração promovida no setor bancário brasileiro nos últimos anos ajuda a entender o porquê da greve dos bancários, nos dias de hoje, não ter mais grande repercussão social, não servir propriamente como um mecanismo de pressão contra a categoria econômica, e o porquê de infelizmente, uma classe de trabalhadores comprometidos e que participam efetivamente do grande processo de diversificação e de elevação de lucratividade destas empresas financeiras, estarem cada vez mais distantes do rendimento obtido, maior a cada dia.

O texto será curto e não nos empenharemos em analisar o contexto histórico da criação do nosso mercado financeiro, nem tão pouco as agruras capitalistas da lastimável divisão de renda que ainda impera nestes rincões, sendo que o que importa aqui é a situação atual, patentemente não gerada apenas por um movimento de evolução tecnológica combinada com a readequação de pesos e importâncias entre os setores da economia, mas que além disso tudo e talvez preponderantemente, houve no caso do setor bancário uma atuação voluntária e altamente especializada, de uso de inteligência e técnicas de racionalização que, sem causar impactos abruptos, levaram sua estrutura a se tornar cada vez mais lucrativa a medida que a mão de obra tornou-se cada vez mais dispensável e/ou fracionada/dividida.

Bem assim que, no quesito terceirização de mão de obra, por exemplo, em alguns anos, aquela forma que se iniciou com movimentos de contratação de empresas para fornecimento de alguns operários para compensação bancária, cadastro de dados e documentos, call center etc, transformou-se em algo que não representa mais, em nenhum aspecto, uma terceirização apenas de mão de obra.

Hoje temos que a maioria dos serviços dos bancos, como um todo, é terceirizada. São feitos nas lotéricas, nos correios, nos caixas eletrônicos que estão nos supermercados e farmácias ou postos de gasolina. Os funcionários que atendem os serviços bancários nos correios e nas lotéricas e em correspondentes diversos não são mais bancários, não ganham sequer o piso dos bancários, não tem a garantia da mesma jornada etc. Os bancos assim não têm mais funcionários terceirizados. Não tem porque não fazem mais os seus próprios serviços, que são feitos agora por outras empresas, que são mal remuneradas e remuneram mal seus empregados. Estes empregados têm menos força que os bancários, que também agora são em muito menor numero e assim mais fracos no conjunto.

E outros serviços bancários são feitos por agências seguradoras, casas de câmbio, agências de viagem, financiadoras, agências de crediário, lojas de varejo, tudo a preço muito mais em conta. E tudo por salários muito mais módicos. Atrás da chamada popularização dos serviços bancários, está uma tremenda elevação de lucros a partir de uma grande economia de custos.

E vejam como dinheiro gera dinheiro. Nos bancos deve haver segurança. Nos correios não precisa. Nas lotéricas não precisa também. Quem vai ser baleado mesmo são os donos ou funcionários destas pequenas agências. Então terceirizaram os assaltos também. Atualmente há muito mais assaltos de lotéricas que de bancos. Nos caixas eletrônicos e 24 horas não colocam segurança também, apesar de provavelmente ser devido. Inteligência, assim, gera inteligência também.

Esses dias fomos almoçar e aproveitei para tirar dinheiro em um ATM que estava pelo caminho, dentro de um mercado. Na tela ele mostrava umas notas rasgadas e cor de rosa enquanto o meu dinheiro saía, e um aviso grafado me dizia: "se o dinheiro estiver com tinta ou rasgado, devolva". Mas devolver para quem? Não tem nenhum funcionário. A máquina não abre para eu enfiar o dinheiro de novo. Inteligência, talvez, é saber que o seu cliente é impotente. E sua mão de obra também o é.

Bom, e tem outra terceirização, além desta manobra já relatada. A outra parte da terceirização é para o próprio cliente. Grande parte do serviço que o bancário fazia tempos atrás quem faz hoje em dia é o cliente. Ou seja, o banco terceirizou grande parte do serviço para o próprio cliente. Para mim e para você, e ainda cobra por isso. E além de terceirizar o serviço para o próprio cliente, o que é cada vez mais incentivado (logicamente pela economia que isso gera), parte do risco dos negócios também é transferido ao cliente, ou seja, se algo der errado em suas transações "via bank line" e seu dinheiro se desvirtuar por aí, não pense que o banco vai correr para assumir o prejuízo. Isso será muito pouco crível.

Então, sobrou muito pouco para que os últimos bancários que sobraram façam nos bancos. E o mais estranho é isso. Os serviços financeiros multiplicaram "n" vezes nos últimos anos. Os lucros nem se comente. E na outra ponta os bancários são em contingente cada vez menor. Apesar de que o que surgiu de postos de trabalho em lotéricas, correios e derivados não foi brincadeira. E tristemente, com condições de trabalho muito piores. São os "sub-bancários", uma nova espécie com tarefas equivalentes e remuneração ainda bem pior. E sem falar no meu "emprego bancário". Todo dia, como cliente, trabalho um pouquinho e ainda pago umas taxas. Olha, digo que inteligência assim pode chegar a dar até uma certa inveja.

E destes que são bancários hoje, e que poderiam ser em numero dez ou vinte vezes maior, a grande maioria é gerente. É impressionante como quase todo mundo que trabalha em banco hoje é gerente. Até o rapaz do elevador vai ver que é "gerente de elevadoria". A copeira é gerente de copa. E aí vai. Uma técnica elaborada para driblar a jornada de seis horas e as horas extras em geral.

Sem falar que este tanto de gerente deve atrapalhar as greves da categoria. Afinal de contas, pelo menos os de verdade, não são profissionais que costumam aderir a greves. Então, os que são gerentes só de nome devem ficar numa tremenda dúvida. Um problemão.

E por falar em greve, como está difícil fazer greve no Brasil. Apesar de existir o direito à parede, com lei própria e tudo, os tribunais, que no Brasil interferem nestas relações por conta do ainda sobrevivente direito normativo, estão cada vez mais contrários a tais movimentos.

Existe uma certa intolerância ao direito de greve atualmente. As manifestações não são aceitas e o direito é muitas vezes ignorado. Parece que a greve, atualmente, só é efetivamente possível no serviço público. Lá, pelo menos, ainda que as reivindicações não sejam atendidas, o pessoal tira uma folga e recebe normalmente os dias parados. Pelo menos até hoje as ameaças de corte de ponto já realizadas nunca foram cumpridas, não que saibamos. Ouvi alguns dizerem que folga remunerada também é bom, apesar de não trazer nenhuma dignidade e não resolver o problema dos que realmente se envolvem na questão coletiva.

E nunca vou esquecer do dia em que sentamos na mesa de negociação em 2008, no TRT aqui em SP, assessorando juridicamente uma grande categoria profissional em greve, com mediação da saudosa desembargadora Cátia Lungov, que antes de analisar um pedido de liminar para que parte da categoria voltasse ao trabalho, apesar da atividade não estar elencada na lei como essencial, deu a palavra a ilustre procuradora do Trabalho presente, que opinou no sentido de que a ordem fosse dada para que o mínimo de 90% da categoria voltasse imediatamente ao trabalho.

Aquele parecer exarado oralmente pela representante do MPT foi tão inusitado, que tanto nós quanto os representantes da categoria econômica acabamos sorrindo e dizendo que 90% de frequência não ocorria sequer nos dias normais de trabalho. Logicamente que o desfecho foi digno da capacidade e da competência da mediadora já citada.

Bom, de toda a inteligência do setor econômico dos bancos já falamos, e de resto nem precisávamos falar, que em um sistema capitalista esperto é quem ganha muito. A pena é que, infelizmente, por um e por todos os motivos, parece a greve não conseguir ser mais meio tão eficaz para se conseguir pressionar o setor econômico. Não neste cenário que temos.

Talvez se viessem os outros bancários que não são considerados bancários – aqueles "sub-bancários." Talvez se viessem os clientes que são um pouco bancários. Talvez se o direito de greve realmente existisse. Talvez se as partes pudessem se entender sem interferências, como ocorre em diversos países, especialmente os mais desenvolvidos. Talvez...

Bom, aproveitando que estou escrevendo isso aqui e mudando totalmente de assunto, gostaria muito de elogiar as atitudes da ministra Eliana Calmon. Mas sei que ela não precisa que eu fique aqui contando todas as suas virtudes, que já são conhecidas, assim como são de longe conhecidas sua ampla capacidade e competência, e o compromisso com os jurisdicionados. Tenho uma filha de seis anos que adora andar por aí de fantasias, de princesas diversas e mulher maravilha e que vive me pedindo para me fantasiar também. Sei que vestir a fantasia de alguém, para minha menina, é uma forma de homenagem, pois na realidade ela está ali tentando parecer ou mesmo se transformar naquele personagem. Então, aproveitando esta ótima oportunidade, pergunto aos que se aventuraram a ler este textinho até o final, se sabem onde posso encontrar uma fantasia da Eliana Calmon para comprar ou alugar. Essa fantasia eu admito que vestiria com orgulho, e sairia por aí junto da minha adorada filhota, em aventuras mil. Mas, se me permite a ministra, somente acrescentaria uma capa, no meu caso da cor azul.


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* Mauro Tavares Cerdeira é economista e advogado sócio do escritório Cerdeira Chohfi Advogados e Consultores Legais, consultor na área coletiva e sindical e conferencista.


Fonte: Informativo eletrônico Migalhas

Mais apoio à Ministra Calmon

Mais uma instituição demonstra seu apoio à nobre Ministra Eliana Calmon:

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OFÍCIO Nº 020/11-FENADEPOL
Brasília/DF, 29 de setembro de 2011
À Sua
Excelência ELIANA CALMON
Ministra do Superior Tribunal de Justiça
Brasília – DF
Senhora Ministra,
A FEDERAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DE POLÍCIA FEDERAL – 
FENADEPOL, entidade sindical representativa da categoria dos 
Delegados de Polícia Federal, vem respeitosamente expressar a 
Vossa Excelência irrestrita solidariedade, em face sua intransigente 
defesa da ética e da Justiça, na verdadeira acepção da palavra, e de 
sua luta sem trégua contra a impunidade e a corrupção e por um 
Poder Judiciário mais imparcial e presente.
Os Delegados de Polícia Federal, com muito orgulho, na qualidade
de membros do sistema de persecução criminal, e partícipes da luta 
por um Brasil mais justo e democrático, parabenizam e enaltecem 
Vossa Excelência, por levar ao conhecimento público a real 
situação da Justiça brasileira, nesse momento que tem sido 
alvo de estranhas e incompreensíveis pressões.
Respeitosamente,
ANTONIO BARBOSA GOIS
Delegado de Polícia Federal
Presidente

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Desagravo ao desagravo

A Ministra Eliana Calmon merece o apoio de TODA a sociedade. Reproduzo texto do informativo eletrônico Migalhas:


Desagravo ao desagravo

"À caça dos bandidos. Bravo Corregedora ! 

A divergência manifestada pelo ministro Peluso sobre as declarações da ministra Eliana Calmon quando diz da existência de bandidos escondidos nas togas da Justiça parece de todo equivocada. 

Por primeiro, a ministra é Corregedora, de modo que lhe cumpre mesmo vasculhar os quadros da Magistratura procurando por bandidos, que certamente nela estão. Melhor do que ninguém, deve a ministra conhecê-los e pelo trabalho que faz certamente já os conhece. 

Ademais, eles existem mesmo, todos têm certeza disso. A afirmação da ministra, de outro lado, não ofende a magistratura, porque, em se sabendo dos bandidos, há de se tratar de expulsá-los, exatamente para que se afaste a mácula que, não atacada, acaba disseminando-se pela Justiça como um todo, comprometendo-a mais do que atualmente a compromete. 

É certo que a magistratura é composta, no Brasil, de pessoas dedicadas e honestas : esse é o seu perfil e sua marca distintiva, sem qualquer margem de dúvidas. 

Todavia, não está livre dos que nela se escondem e são esses que precisam ser denunciados, procurados e extirpados. A melhor forma de se ressaltar a qualidade de uma instituição é a atuação dela própria afastando aqueles que não a merecem, por isso não se pode e muito menos se deve colocar em dúvida quem se propõe a fazer, com coragem e determinação, esse trabalho de profilaxia." 

Clito Fornaciari Júnior - escritório Clito Fornaciari Júnior - Advocacia

Retrato de um Supremo Tribunal Federal

Para quem não conhece o STF e o Ministro Peluso:


Um poder de costas para o país
MARCO ANTONIO VILLA

Justiça no Brasil vai mal, muito mal. Porém, de acordo com o relatório de atividades do Supremo Tribunal Federal de 2010, tudo vai muito bem. Nas 80 páginas — parte delas em branco — recheadas de fotografias (como uma revista de consultório médico), gráficos coloridos e frases vazias, o leitor fica com a impressão que o STF é um exemplo de eficiência, presteza e defesa da cidadania. Neste terreno de enganos, ficamos sabendo que um dos gabinetes (que tem milhares de processos parados, aguardando encaminhamento) recebeu “pela excelência dos serviços prestados” o certificado ISO 9001. E há até informações futebolísticas: o relatório informa que o ministro Marco Aurélio é flamenguista.

A leitura do documento é chocante. Descreve até uma diplomacia judiciária para justificar os passeios dos ministros à Europa e aos Estados Unidos. Ou, como prefere o relatório, as viagens possibilitaram “uma proveitosa troca de opiniões sobre o trabalho cotidiano.” Custosas, muito custosas, estas trocas de opiniões. Pena que a diplomacia judiciária não é exercida internamente. Pena. Basta citar o assassinato da juíza Patrícia Acioli, de São Gonçalo. Nenhum ministro do STF, muito menos o seu presidente, foi ao velório ou ao enterro. Sequer foi feita uma declaração formal em nome da instituição. Nada.

Silêncio absoluto. Por que? E a triste ironia: a juíza foi assassinada em 11 de agosto, data comemorativa do nascimento dos cursos jurídicos no Brasil. Mas, se o STF se omitiu sobre o cruel assassinato da juíza, o mesmo não o fez quando o assunto foi o aumento salarial do Judiciário. Seu presidente, Cézar Peluso, ocupou seu tempo nas últimas semanas defendendo — como um líder sindical de toga — o abusivo aumento salarial para o Judiciário Federal. Considera ético e moral coagir o Executivo a aumentar as despesas em R$ 8,3 bilhões. A proposta do aumento salarial é um escárnio.

É um prêmio à paralisia do STF, onde processos chegam a permanecer décadas sem qualquer decisão. A lentidão decisória do Supremo não pode ser imputada à falta de funcionários. De acordo com os dados disponibilizados, o tribunal tem 1.096 cargos efetivos e mais 578 cargos comissionados. Portanto, são 1.674 funcionários, isto somente para um tribunal com 11 juízes. Mas, também de acordo com dados fornecidos pelo próprio STF, 1.148 postos de trabalho são terceirizados, perfazendo um total de 2.822 funcionários. Assim, o tribunal tem a incrível média de 256 funcionários por ministro.

Ficam no ar várias perguntas: como abrigar os quase 3 mil funcionários no prédio-sede e nos anexos? Cabe todo mundo? Ou será preciso aumentar os salários com algum adicional de insalubridade? Causa estupor o número de seguranças entre os funcionários terceirizados. São 435! O leitor não se enganou: são 435. Nem na Casa Branca tem tanto segurança. Será que o STF está sendo ameaçado e não sabemos? Parte destes abuso é que não falta naquela Corte. Só de assistência médica e odontológica o tribunal gastou em 2010, R$ 16 milhões.

O orçamento total do STF foi de R$ 518 milhões, dos quais R$ 315 milhões somente para o pagamento de salários. Falando em relatório, chama a atenção o número de fotografias onde está presente Cézar Peluso. No momento da leitura recordei o comentário de Nélson Rodrigues sobre Pedro Bloch. O motivo foi uma entrevista para a revista “Manchete”. O maior teatrólogo brasileiro ironizou o colega: “Ninguém ama tanto Pedro Bloch como o próprio Pedro Bloch.”

Peluso é o Bloch da vez. Deve gostar muito de si mesmo. São 12 fotos, parte delas de página inteira. Os outros ministros aparecem em uma ou duas fotos. Ele, não. Reservou para si uma dúzia de fotos, a última cercado por crianças. A egolatria chega ao ponto de, ao apresentar a página do STF na intranet, também ter reproduzida uma foto sua acompanhada de uma frase (irônica?) destacando que o “a experiência do Judiciário brasileiro tem importância mundial”. No relatório já citado, o ministro Peluso escreveu algumas linhas, logo na introdução, explicando a importância das atividades do tribunal.

E concluiu, numa linguagem confusa, que “a sociedade confia na Corte Suprema de seu País. Fazer melhor, a cada dia, ainda que em pequenos mas significativos passos, é nossa responsabilidade, nosso dever e nosso empenho permanente”. Se Bussunda estivesse vivo poderia retrucar com aquele bordão inesquecível: “Fala sério, ministro!” As mazelas do STF têm raízes na crise das instituições da jovem democracia brasileira. Se os três Poderes da República têm sérios problemas de funcionamento, é inegável que o Judiciário é o pior deles. E deveria ser o mais importante. Ninguém entende o seu funcionamento.

É lento e caro. Seus membros buscam privilégios, e não a austeridade. Confundem independência entre os poderes com autonomia para fazer o que bem entendem. Estão de costas para o país. No fundo, desprezam as insistentes cobranças por justiça. Consideram uma intromissão.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos.